segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

- Continuar é Loucura desistir é burrice!


Por Orlângelo Leal




“A liberdade tem um preço”, o escritor Brasileiro Paulo Coelho sabe bem sobre este assunto. Ser livre é poder decidir sobre o rumo da vida, tomar atitudes, fazer escolhas e pagar por isso.  Hoje aos 37 anos de idade penso um pouco sobre o passado e me vejo contente nas decisões que tomei ao longo de minha vida, inclusive a opção profissional que escolhi, apesar de liso. Eu poderia ter sido um guerrilheiro de alguma força armada, ou militante de um partido comunista, quem sabe um profeta a pregar o evangelho, ou ainda um ativista de alguma frente libertária. Poderia quem sabe ser um grande executivo de uma multinacional. Porém diante das inúmeras opções decidi ser um artista. Como tal não tenho um emprego e sim um ofício. Sou um profissional pertencente á economia da “cultura”. É o suficiente para me sentir um pouco de guerrilheiro, profeta, ativista, militante, articulador, mobilizador, executivo etc...


Digo isso tomando como base de referencia meus 20 e poucos anos de atuação no mercado cultural, assim posso dar um testemunho de causa e direito.


Quando me perguntam o que é “cultura” falo em tom de brincadeira a partir de uma visão econômica: - Sabe aqueles eventos musicais que não tem ninguém, umas bandas estranhas que ninguém nunca ouviu falar? Umas peças de teatro diferente, umas imagens que ninguém entende nada? Pois é né? 


Aquelas bandas/coletivos/grupos/artistas que ninguém nunca ouviu falar, são bem criativos, originais doam o sangue para fazer tudo bem feitinho, com o máximo de originalidade e qualidade possível na tentativa de gerar uma cena que seja promissora. E estes eventos que não tem ninguém, apresentam uma programação gratuita pautada na diversidade e no acesso a cultura, importantes ilhas de difusão da cena local. Para estes artistas e eventos os cachêt´s são poucos e demoram a sair, os recursos bem escassos, com uma certa burocracia chata e os investimentos por parte dos setores públicos e privados são mínimos. A triste realidade revela um setor da economia ainda num processo de evolução muito lento ou “propositalmente travado por falta de interesse geral”.


Um dia desses, numa certa manhã dominical, minha querida mamãe me liga para comunicar que estava aberta a inscrição para o concurso do banco do Brasil. Inteligente como ela e preocupada como toda mãe, não ver neste ambiente, possibilidades de sobrevivência no mercado. Gostaria que seu querido filho tivesse um bendito emprego e pronto: Tudo certo, tudo resolvido. Simples assim, eu não sabia que ser artista e viver do meu ofício era tão sacrificante: - Muito trabalho e pouca grana. Adoraria conseguir virar o quadro, inverter as polaridades, a vida seria mais confortável. Afinal de contas não estou sozinho nesta empreitada, tem os meus (esposa e filho) que tento com todo esforço seguindo orientações de meu sapiente pai, oferecer uma vida com dignidade.


As vezes, guiado pelos medos que atormentam meu espírito chego a me perguntar o que ainda estou fazendo aqui? Pra que investir tanto tempo em algo com tão pouco retorno financeiro? E os bens materiais que gostaria de consumir? E os investimentos? E o futuro? E a aposentadoria? E se eu ficar doente? E se? Por que? Como? Quando? HAHAHAHAHAHA! (gritando) 




E os companheiros que trabalham comigo, amigos, parentes, conjugue, aderentes, guerreiros de confiança, soldados de um batalhão de insanos, juntos no mesmo ideal e vivendo as mesmas circunstâncias dadas? Não posso garantir a nenhum segurança alguma nem certeza de nada. Que loucura! 


O lado bonzinho e humanista do cérebro me responde com austeridade: - Calma a vida não é apenas a busca do ouro. Você é “feliz”! É o suficiente para encontrar argumentos de elevação da minha autoestima. É aqui na “cultura”, neste formato de vida, refém de uma estrutura dominante, cercado de malucos assim como eu, que encontro felicidade, afago, reconhecimento, prestígio, formação, paixão e amigos. Poderia encontrar tudo isso em outro lugar? Não sei, algumas vezes que tentei trabalhar noutro setor que não a “cultura”, eu tinha tudo, mas sentia que faltava algo. 


Fico confuso com tanta perturbação, mas ainda bem que logo esqueço e sigo o caminho. Quando me pego nas atividades do cotidiano tem sempre uma música pra terminar, um texto pra escrever, uma cena para dirigir, um show pra realizar, um cachêt pra receber, um lugar para conhecer. O sociólogo Polonês Zygmunt Bauman nos revela que o homem pós-moderno, este mesmo “Livre”, vive numa circunstancia de “não saber para onde ir e se parar morre”. Como todo humano contemporâneo e esperto, devo escutar o mestre.


Minha jovem maturidade me estimula a continuar, confesso que não sei para onde e nem até quando. O que mais vale é fazer, realizar, executar, produzir, gerar, parir, cuidar, amar, proteger, compartilhar, contribuir. Para que? Talvez para no futuro poder contar a história a partir de ponto de vista do protagonista. De alguém que fez algo com outros para o presente e quem sabe para a posteridade. Para que de fato o “senhor tempo” é quem dirá.


Hoje aos 37 anos de idade, sou um dos gestores da Casa de Teatro Dona Zefinha, um espaço destinado a “cultura”. Neste lugar, juntamente com outros companheiros, faço investimentos de sonhos, utopias e esperanças. Dou sentido e significado a minha vida, assim durmo contente. 


Em uma noite insone acordei súbito com uma frase tenebrosa: - Continuar é loucura desistir é burrice! Que ainda me aconteçam muitas loucuras!


Nenhum comentário:

Postar um comentário