Por Orlângelo Leal
“A liberdade tem um preço”, o escritor Brasileiro Paulo
Coelho sabe bem sobre este assunto. Ser livre é poder decidir sobre o rumo da
vida, tomar atitudes, fazer escolhas e pagar por isso. Hoje aos 37 anos de idade penso um pouco
sobre o passado e me vejo contente nas decisões que tomei ao longo de minha
vida, inclusive a opção profissional que escolhi, apesar de liso. Eu poderia
ter sido um guerrilheiro de alguma força armada, ou militante de um partido
comunista, quem sabe um profeta a pregar o evangelho, ou ainda um ativista de
alguma frente libertária. Poderia quem sabe ser um grande executivo de uma
multinacional. Porém diante das inúmeras opções decidi ser um artista. Como tal
não tenho um emprego e sim um ofício. Sou um profissional pertencente á
economia da “cultura”. É o
suficiente para me sentir um pouco de guerrilheiro, profeta, ativista, militante,
articulador, mobilizador, executivo etc...
Digo isso tomando como base de referencia meus 20 e poucos
anos de atuação no mercado cultural, assim posso dar um testemunho de causa e
direito.
Quando me perguntam o que é “cultura” falo em tom de brincadeira a partir de uma visão
econômica: - Sabe aqueles eventos musicais que não tem ninguém, umas bandas
estranhas que ninguém nunca ouviu falar? Umas peças de teatro diferente, umas
imagens que ninguém entende nada? Pois é né?
Aquelas bandas/coletivos/grupos/artistas que ninguém nunca
ouviu falar, são bem criativos, originais doam o sangue para fazer tudo bem
feitinho, com o máximo de originalidade e qualidade possível na tentativa de
gerar uma cena que seja promissora. E estes eventos que não tem ninguém,
apresentam uma programação gratuita pautada na diversidade e no acesso a
cultura, importantes ilhas de difusão da cena local. Para estes artistas e
eventos os cachêt´s são poucos e demoram a sair, os recursos bem escassos, com
uma certa burocracia chata e os investimentos por parte dos setores públicos e
privados são mínimos. A triste realidade revela um setor da economia ainda num
processo de evolução muito lento ou “propositalmente travado por falta de
interesse geral”.
Um dia desses, numa certa manhã dominical, minha querida
mamãe me liga para comunicar que estava aberta a inscrição para o concurso do
banco do Brasil. Inteligente como ela e preocupada como toda mãe, não ver neste
ambiente, possibilidades de sobrevivência no mercado. Gostaria que seu querido
filho tivesse um bendito emprego e pronto: Tudo certo, tudo resolvido. Simples
assim, eu não sabia que ser artista e viver do meu ofício era tão sacrificante:
- Muito trabalho e pouca grana. Adoraria conseguir virar o quadro, inverter as
polaridades, a vida seria mais confortável. Afinal de contas não estou sozinho
nesta empreitada, tem os meus (esposa e filho) que tento com todo esforço
seguindo orientações de meu sapiente pai, oferecer uma vida com dignidade.
As vezes, guiado pelos medos que atormentam meu espírito chego
a me perguntar o que ainda estou fazendo aqui? Pra que investir tanto tempo em
algo com tão pouco retorno financeiro? E os bens materiais que gostaria de
consumir? E os investimentos? E o futuro? E a aposentadoria? E se eu ficar
doente? E se? Por que? Como? Quando? HAHAHAHAHAHA! (gritando)
E os companheiros que trabalham comigo, amigos, parentes, conjugue, aderentes, guerreiros de confiança, soldados de um batalhão de insanos, juntos no mesmo ideal e vivendo as mesmas circunstâncias dadas? Não posso garantir a nenhum segurança alguma nem certeza de nada. Que loucura!
E os companheiros que trabalham comigo, amigos, parentes, conjugue, aderentes, guerreiros de confiança, soldados de um batalhão de insanos, juntos no mesmo ideal e vivendo as mesmas circunstâncias dadas? Não posso garantir a nenhum segurança alguma nem certeza de nada. Que loucura!
O lado bonzinho e humanista do cérebro me responde com austeridade:
- Calma a vida não é apenas a busca do ouro. Você é “feliz”! É o suficiente
para encontrar argumentos de elevação da minha autoestima. É aqui na “cultura”, neste formato de vida, refém
de uma estrutura dominante, cercado de malucos assim como eu, que encontro
felicidade, afago, reconhecimento, prestígio, formação, paixão e amigos.
Poderia encontrar tudo isso em outro lugar? Não sei, algumas vezes que tentei
trabalhar noutro setor que não a “cultura”,
eu tinha tudo, mas sentia que faltava algo.
Fico confuso com tanta perturbação, mas ainda bem que logo
esqueço e sigo o caminho. Quando me pego nas atividades do cotidiano tem sempre
uma música pra terminar, um texto pra escrever, uma cena para dirigir, um show
pra realizar, um cachêt pra receber, um lugar para conhecer. O sociólogo Polonês
Zygmunt Bauman nos revela que o homem pós-moderno, este mesmo “Livre”, vive
numa circunstancia de “não saber para onde ir e se parar morre”. Como todo
humano contemporâneo e esperto, devo escutar o mestre.
Minha jovem maturidade me estimula a continuar, confesso que não
sei para onde e nem até quando. O que mais vale é fazer, realizar, executar,
produzir, gerar, parir, cuidar, amar, proteger, compartilhar, contribuir. Para
que? Talvez para no futuro poder contar a história a partir de ponto de vista do
protagonista. De alguém que fez algo com outros para o presente e quem sabe
para a posteridade. Para que de fato o “senhor tempo” é quem dirá.
Hoje aos 37 anos de idade, sou um dos gestores da Casa de
Teatro Dona Zefinha, um espaço destinado a “cultura”.
Neste lugar, juntamente com outros companheiros, faço investimentos de sonhos,
utopias e esperanças. Dou sentido e significado a minha vida, assim durmo contente.
Em uma noite insone acordei súbito com uma frase tenebrosa: -
Continuar é loucura desistir é burrice! Que ainda me aconteçam muitas loucuras!
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