Em resposta ao aluno de Artes Cênica do Principios Básico de Teatro Yuri Oliveira, como trabalho da disciplinar da Professora Juliana Veras.
Por
Orlângelo Leal
Fotos - Internet
1. Como foi que surgiu a ideia deste espetáculo?
A ideia era
fazer algo universal que pudesse ser exibido em qualquer país, utilizando as
linguagens do palhaço e da musica excêntrica. Paulo Orlando interpreta o
personagem principal, também é seu primeiro exercício como “Augusto” do jogo
cômico.
2. Por que o nome Chafurdo?
Chafurdo é
bagunça, caos e também pode ser festa, farra. Uma algazarra! É isso que fazemos
com o público!
3. A obra usa muito o elemento sonoro, gostaria de
saber quais foram as referencias musicais usadas na peça?
As músicas são originais e foram compostas
para a cena. Fizemos estudos de percussão em geral e gravação ao vivo. O
caixapé (instrumento percussivo para os pés) é uma invenção minha e utilizo as
danças brasileiras aproveitando as técnicas para execução do instrumento. Também
o “Pafinfon”, uma outra invenção nossa, (roupa sonora contendo diversos,
apitos, triangulo, pratos). De uma bateria antiga montamos um “quadriton” que
pode ser tocado e dançado ao mesmo tempo. A música tradicional brasileira nos
instiga bastante.
4. E quanto às influencias circenses? O trabalho
apresenta diversas referencias que parecem ter origem no circo. Qual foi o
processo criativo usado na elaboração do trio de personagens?
A principal referencia vem da dramaturgia
dos números, podem ser pensados como móbiles, os mesmo vão ligando numa ordem,
sequencia, onde acontecem as relações das personagens: Manipulação de chapéu,
execução de instrumentos exóticos, que são bastante comuns no circo popular,
inclusão do expectador na cena, interação com o público através do não verbal,
etc.
O jogo cômico dos 03 personagens respeita o
clássico “Branco e Augusto”, numa luta entre opostos: esperto, burro, forte,
fraco, extrovertido, introvertido, relaxado, perfeccionista, animus, anima e
tantas outras possibilidade. O terceiro personagem entra com o arquétipo do juiz,
que julga os demais, representa a a moral, autoridade, o dominador ideológico.
Assim o jogo teatral é estabelecido com o público.
5. É uma característica da peça o palco aberto? Ela já
foi apresentada em outros formatos, ou já sofreu algum tipo de adaptação?
O espetáculo
foi concebido para ser apresentado em formatos diversos (palco, arena, rua).
Sempre adaptamos quando preciso, o espetáculo está aberto para mudanças geradas
pelas circunstancias do local. Gostamos de fazer sempre em situações diferentes
e desafiadoras.
6. E as cenas; qual é o processo utilizado na concepção
das mesmas?
As cenas são 05 números com começo, meio e
fim cada uma delas, que podem ser exibidos em qualquer ordem, não existe
sequencia pré-definida. Temos um roteiro que seguimos, porém ele não é o
definitivo. Em turnê na Argentina em 2014, fizemos de outra forma e ganhamos
uma experiência nova, descobrimos outras possibilidades. O que considero eterno
esta possibilidade da novidade como estimulo para criação cênica e o desempenho
do ator.
7. Na obra quase não há texto, o por que disto?
Explorar o não verbal como forma de expressão
universal, é um exercício incrível, que desafia o ator num jogo teatral muito
sensorial.
O processo investigativo para a montagem do
espetáculo foi a busca do ator autônomo, consciente de seu ofício, que domina o
espaço cênico e faz contato com o público em busca de um jogo teatral bem
divertido e prazeroso. Com este trabalho o grupo Dona Zefinha retorna aos
primeiros espetáculos e exercícios teatrais dos anos noventa quando ainda era
chamado de “Trupe Metamorfose”. Em 1997 o
grupo montou “Três Faniquitos sem
Concerto”, foi o primeiro contato com a estética do clown e música
excêntrica. O hibridismo entre a comicidade e musica tem se tornado uma
característica peculiar na montagem dos espetáculos do grupo.
8. O espetáculo é uma comedia, acredito, entretanto
queria saber dos próprios autores qual é a classificação da peça; e um pouco da
visão sobre de vocês o espetáculo, e qual é a mensagem da obra, se há uma?
Não existe uma mensagem no espetáculo
elaborada por nós, agora o público pode chegar as suas conclusões do que possa
ser uma mensagem visível. O trabalho é livre para todos os públicos, já fizemos
para pessoas de perfis diversos e faixas diferenciadas.
8. O grupo faz uso também da dança. E quanto a este
aspecto, gostaria de saber como se deu a criação dos movimentos usados, e as
referencias deles.
Sobre a dança, como é uma comédia, fazemos
parodia da dança. Dançei break nos anos noventa quando adolescente, retomei um
pouco a cena hip hop como elemento de ligação com o urbano contemporâneo. Os
passos são simples e foram colhidos em clubes de dança quando eu tinha 16 anos.
Eram passos da moda dos anos oitenta que sobreviveram as tertúlias do interior.
Todos sabiam dançar pois os passos chegavam até nós através da televisão e de
filmes de VHS. Na cidade de Itapipoca, era comum nos finais de semana os jovens
irem aos vesperais para namorar, encontrar amigos e dançar no salão. Eu tinha
um grupo de dança e fazíamos exibições de passos e manobras acrobáticas no
Clube Social Imperatriz. Ficava “se amostrando” como dizem os mais velhos, para
chamar atenção das gatinhas.
9. E o figurino. Como foram escolhidos as roupas e
adereços de Chafurdo, e se houver, qual é a sua significação na peça?
Foi concebido e executado por Joelia
Braga, figurinista do grupo. Para distanciar do universo fantástico do mundo
clownesco, fizemos algo com tom naturalista, sem muitos enfeites já que são
artistas de rua. Visitamos brechós, compramos algumas peças e restauramos
outras que pertencem ao nosso acervo no ateliê de Figurinos na Casa de teatro
Dona Zefinha.
10. É uma criação coletiva, ou individual? Qual foi o
insight básico, de onde surgiu a ideia do Chafurdo (A primeira ideia sobre a
obra), da qual tudo partiu?
O roteiro e a
direção são de Orlângelo. O espetáculo foi elaborado em 04 momentos:
1º -
Investigação em Studio com Orlângelo na criação do roteiro, números,
investigação sonora e concepção geral sem o elenco; (01 ano)
2º - Encontro
com elenco para teste do roteiro, números em Studio; (01 semana)
3º -
Experimento com o público, jovens, crianças e adultos; (06 meses)
4º - Análise,
edição e recorte, remontagem de cenas e adaptações; (sempre)
11. Há alguma analogia ou contexto mais profundo
inserido no âmbito do espetáculo?
O
roteiro foi criado a partir de situações reais vividas pelo trio de atores em
turnês, ensaios e temporadas ao longo de mais de vinte anos de convivência, uma
espécie de encenação autobiográfica, pois somos irmãos e desde de criança
fazemos brincadeiras entre nós este foi o principal mote, as relações entre os
personagens.
12. Quem são os três “Chafurdeiros”? Qual é o roteiro da
peça?
Em Ch@furdo, três irmãos se reúnem para
realizar uma apresentação musical improvisada com a maioria dos instrumentos
feitos de materiais alternativos. Ao longo do espetáculo vão descobrindo, junto
do público, diversas formas de composição musical. O irmão mais velho tenta a
todo o momento reger e organizar a apresentação, façanha que se torna difícil
uma vez que o irmão mais novo sempre se desconcentra atrapalhando os números e
deixando o irmão do meio entre a obrigação e a brincadeira. Chafurdo, que
significa caos, descontrole, algazarra e festa é o que proporciona os musicômicos
Orlângelo Leal, Ângelo Márcio e Paulo Orlando provocando o público com música
excêntrica e outras surpresas. Um espetáculo livre para todos os públicos.
13. E a preparação dos atores, como foi? Qual seria o
programa de ensaios e reuniões do grupo?
A preparação do ator neste trabalho, em
especial foi uma preparação de vida. Estamos fazendo teatro juntos desde
adolescentes. Utilizamos recursos que aprendemos ao longo da carreira, como
tocar instrumentos variados e gags de palhaço. Se eu fosse montar este trabalho
com outros atores que não fossem meus irmãos o processo seria totalmente bem
diferente. Aproveitei algumas das possibilidade da convivência: Temos
intimidade cênica, nos conhecemos artisticamente, entendemos as propostas e o
tempo de humor necessário para desenvolver uma piada improvisada. Tudo isso
facilita o formato como foi concebido, bem peculiar ao trio.
14. Quanto tempo se levou da criação para a primeira
apresentação da obra? E quantas vezes ela foi apresentada?
Foram 02 anos até ficar pronto em 2013. Já
fizemos mais de setenta exibições em locais como São Gonçalo do Amarante, Fortaleza,
Guaramiranga, Arneiroz, Russas, Jaguaribe, Juazeiro do Norte, Maranguape,
Maracanaú, Santa Cruz e Carnaúba dos Dantas no Rio Grande do Norte, Sousa na Paraíba, São Paulo, Rosário
e Mar Del Plata na Argentina.
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