quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Que Fuzuê...!

Noite silenciosa de quarta feira. No largo da igreja de São Sebastião tudo pronto para a função. O público foi chegando acanhado, de pouquinho em pouquinho e de repente 200 pessoas compunham uma platéia sorridente e calorosa. Os dois bufões do Fuzuê fizeram o que todos esperavam: Momentos de alegria e diversão...



Embolada, cantoria, música e acrobacias, foram 50 minutos de contato com o público...


Além do espetáculo o grupo Fuzuê realizou oficina de acorbacia no circo escola de Itapipoca, bom para a cidade melhor aida para os aprendizes...


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

sobre o teatro pós-moderno




Designa-se como pós-moderna a produção cultu­ral nascida na era pós-industrial, genericamente engolfada pela lógica do capitalismo tardio e situa­da no contexto das sociedades altamente tecnoló­gicas do Ocidente. Verificou-se que, após os anos de 1950, manifestações como a arquitetura, a dan­ça, a música e o cinema passaram a fornecer procedimentos de linguagem para as incontáveis no­vas mídias surgidas com a revolução cibernética, propiciando um amálgama de novos e inusitados formatos expressivos. Tais fatores engendraram uma pluralidade de manifestações junto à área artístico-cultural, dificultando as generalizações ou agrupamentos em séries; sugerindo o desenvolvimento de novas formas de conhecimento, de vida e comportamento, em que a questão dos gêneros afirmou-se e transformou-se em motor de (novas) proposições. Como resultante, obser­vamos uma cultura que manifesta caráter anti­totalitário e não-hegemônico, nos antípodas das posturas que demarcaram o advento da modernidade. As dimensões social, cultural, industrial, arquitetural, técnica, de engenharia e sistemas operacionais surgem fundidas, consubstanciando corporações, holdings e tradings como seus mais elo quentes paradigmas de manifestação.

Neste ambiente sociocultural ultradesenvol­vido, novos procedimentos de linguagem mar­cam presença, estreitando o antigo fosso entre uma cultura erudita e outra de massa, tais como a intertextualidade, a citação, a paródia*, a ironia, o humor, o entretenimento, a desconstrução de todos os discursos instituídos. Apontam eles para a falência das meganarrativas do passado (o que fará com que sejam redimensionadas as ciências humanas), recobrindo todas as estruturas com a pátina do cotidiano, provocando descrença nas utopias que impulsionaram o advento da moder­nidade. Do ponto de vista da recepção, opera-se uma revalorização do espectador, abordado atra­vés de uma retórica que privilegia a nova sensibi­lidade - aberta, provisória, capaz de deslocamento rápido entre múltiplos estímulos simultâneos.

As artes cênicas assistirão, a partir de 1950, ao surgimento do happening: e da performan­ce* como procedimentos modelares destas novas configurações. A atitude experimental que lhes é subjacente ganhará impulso, apontando o teor vanguardista com que surgiram. Insuflarão gru­pos como o Living Theatre, o Open-Theatre ou o Performing Group, nos EUA; assim como, do ou­tro lado do Atlântico, fornecerão os procedimen­tos de base mobilizados por Tadeusz KANTOR e [erzi GROTOVSKI. O caráter gestual inerente à action painting e à body-art muito em breve con­taminará a dança, e esta, as demais manifestações cênicas, conformando novos modelos, apoios e técnicas para a abordagem da interpretação. O resultado desses processos será o redimensiona­mento da noção de representação, que trabalha agora com fenômenos de mestiçagens e hibridi­zações, sem fronteiras demarcadas: é o work in progress em franco desenvolvimento.

Uma dramaturgia que se assume fora do tex­tocentrismo nasce com as experiências de criação coletiva" privilegiadas por inúmeras equipes artís­ticas. O pensamento de ARTAUD ressurge com ímpeto ao longo da década de 1960, assim como as práticas ritualísticas, a ensejarem um teatro per­formático como preconizado por SCHECHNER e CHAIKIN. O teatro de imagens ganhará relevo com Robert WILSON e Richard FOREMAN, de­pois de 1970.

Macunaíma, espetáculo de ANTUNES FILHO de 1978, pode ser considerado o marco instaura-
dor da pós-modernidade no Brasil. Associando códigos da intertextualidade, da paródia, da ironia, do humor, soube preencher o palco nu com signos impactantes, a oferecerem uma nova face ao ho­mem brasileiro, assim como a instauração de um renovado padrão de teatralidade. Junto ao Centro de Pesquisa Teatral CPT, ANTUNES dedicou-se a criações de fôlego: Nelson Rodrigues, o Eterno Re­torno (1980), Romeu e [ulieta (1984), Paraíso Zona Norte (1989), Trono de Sangue-Macbeth (1992), Vereda da Salvação (1993).

Em 1982, inúmeros artistas foram reunidos em "14 Noites de Performances", num megaeven­to promovido pelo SESC-SP, e pela FUNARTE, cuja função era disseminar essas novas experiências em curso. O grupo Ponkã estreia Aponkâlipse em 1984, inspirado no I Ching e no livro bíblico de João, colocando em destaque as imagens termi­nais do século da cibernética. O Próximo Capítulo, coordenado por Luiz Roberto GALIZIA, empre­gava a performance como motor de sua estrutu­ra, que admitia um convidado a cada noite. Pás­saro do Poente, espetáculo de Márcio AURÉLIO, de 1987, fundia uma tradicional lenda nipônica com elementos da Commedia dell'Arte, bonecos de kyõgen e paródia sertaneja, teatro nô e kabuki, para narrar uma história de trás para frente, le­vando o Ponkã à máxima miscigenação cultural, como era seu propósito original.

O multiculturalismo*, em seu corolário mais am­plo, encontra-se na fundação do Bando de Teatro Olodum, capitaneado por Márcio MEIRELES, em Salvador, 1991, com o espetáculo Essa É Nossa Praia. A cultura do Pelourinho, entrecruzamento do arcai­co e do moderno, do negro pobre brasileiro e do tu­rista estrangeiro, das contradições de classe e raça, ganhou expressão nacional com este primeiro elenco formado exclusivamente por negros que fundiram o teatro à dança, à música, ao ritmo e à carnavalização, sintetizando a cultura baiana contemporânea.

Outra dimensão pós-moderna encontra-se no trabalho dos intérpretes. Denise STOKLOS inaugurou o teatro essencial: com Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico, em 1983. Desde en­tão apresentou inúmeras criações, com destaque Para Mary Stuart (1987), Casa (1989), Um Fax para Cristóvão Colombo (1992). O Lume, criado por Luís Otávio BURNIER em Campinas, en­veredou pelos métodos difundidos por Eugenio BARBA, chegando à mimese corpórea, em reali­zações como Kibilin o Cão da Divindade, Cravo, Lírio e Rosa e Café com Queijo. A ISTA (Inter­national School ofTheatre Antropology), funda­da por BARBA para difundir seus ensinamentos, inicia suas atividades em 1980, em Bonn. Após sessões em diversos países, aporta em Londrina em 1994, consolidando este inusual enquadra­mento do trabalho do ator, através de uma es­tratégia autodefinida como terceiro teatro. Maura BAIOCCHI tornou-se uma empenhada difusora do butô entre nós, após as instigantes visitas de Kazuo OHNO (1980) e Sankai JUKU (1981), em realizações radicais como Tanz-Butoh (1986).

Oriundo das artes plásticas e da música, o grupo XPTO estreia, em 1984, Buster Keaton e a Infecção Sentimental, revitalizando a centená­ria arte dos bonecos' e das formas animadas", Com Kronos (1987) e Coquetel Clown (1989) le­vam o gênero a um máximo de desenvolvimento, abrindo as portas para outros artistas da mesma linhagem, como o Pia Fraus e o Manhas e Ma­nias, estes mais próximos da entonação circense. Rodrigo MATEUS alcança desenvoltura junto ao teatro físico*, afirmando e ampliando o repertó­rio expressivo desta tendência, francamente dis­tante da representação tradicional.

A encenação conhece insuspeitos e instigan­tes desafios, co~o o proposto por Gerald THO­MAS em Carmem com Filtro (1986) Eletra Com Creta (1986), Trilogia Kafka (1988) e Mattogrosso (1989), que abusivamente valeu-se da paródia, da intertextualidade, da citação como alavancas de uma dicção que objetivava a auto exibição, em se­guida contextualizada como a de um encenador" de si mesmo. Neste mesmo influxo, vale lembrar o teor fortemente autoral das criações do cario­ca Márcio VIANNA, como Marat, Marat (1988), O Caso dos Irmãos Feininger, Coleção de Bonecas, O Circo da Solidão, em que explorou ao paroxis­mo a desvinculação entre intenção e gesto no trabalho de seus intérpretes, em agudas pesqui­sas sobre as convenções da cena. O apelo autoral também está presente no trabalho de Bia LES­SA: Exercício n. 1 (1987), Orlando (1989), Cartas Portuguesas (1991) e Viagem ao Centro da Terra (1993). Renato COHEN surpreendeu a todos, em 1986, com Espelho Vivo, mergulhando no univer­so figural de René MAGRITTE, bem urdido em­prego da performance e do teatro-imagem. Sturm und Drang/Tempestade e Ímpeto (1991) revisitou matrizes do pré-romantismo alemão fazendo deambular pelo Parque Modernista uma série de figuras em busca da essência da poesia. Em 1995, Renato COHEN volta-se para a vanguar­da russa, redescobrindo Vitória sobre o Sol, espe­táculo embasado pelo butô. Mais radical foi seu trabalho Ka-Poética de Vélimir Khlébnikov, em que o emprego da linguagem zaún possibilitou repetidos exercícios em torno da pura sonorida­de. Tais repetições, uma das matrizes identifica­das com o minimalismo, já estavam presentes em Você Vai Ver o que Você Vai Ver (1986), de Gabriel VILLELA, que recontava, em estilos diversos, qua­torzevezes o mesmo enredo. Esse diretor minei­ro criou um Romeu e [ulieta minimalista com o grupo Galpão, em 1991, assim como A Rua da Amargura, apelando para uma revisão estilística da Paixão de Cristo que tinha na paródia, no uso das alegorias' e no perfil neobarroco de seu tra­çado as marcas da pós-modernidade.

O Centro para Construção e Demolição do Es­petáculo surgiu em 1988, por iniciativa de Aderbal FREIRE - FILHO que levou ao palco, em sua íntegra e sem adaptação", o romance A Mulher Carioca aos 22 Anos. Em anos subsequentes, o encenador evo­cará a história do país, revivendo episódios em tor­no de Getúlio VARGAS e TIRADENTES. Em 2003 voltará ao antigo formato com O que Diz Molero, radicalizando a narratividade do romance.

Em 1991, José Celso Martinez CORRÊA volta aos palcos com As Boas, lançando dois anos após Ham-Iet, a primeira produção do novo Teatro Ofi­cina, remodelado como uma rua cultural. Misté­rios Gozozos (1995), As Bacantes e Para Dar um Basta no Iuizo de Deus (1996), Ela (1997) e Cacil­da! (1998) constituíram-se em momentos de forte extração dionisíaca, novos apelos ao rito e à tea­tralidade prenhe de erotismo, festa, desregramen­to. Os Sertões, adaptado de Euc1ides da CUNHA, conheceu três partes, apresentadas entre 2000 e 2004. Esta vertente perseguida pelo Oficina, que entrecruza vida e arte, já havia arrebatado outros adeptos, como o Terreira da Tribo, de Porto Ale­gre, através de criações como Ostal (1987), Antígo­na (1990), Missa para Atores e Público sobre a Pai­xão e o Nascimento do dr. Fausto de Acordo com o Espírito de nosso Tempo (1994), A Morte e a Don­zela (1997) e Kassandra in Process (2001).

A exploração de novos espaços cênicos e a eleição de lugares da memória coletiva como marcos simbólicos da cidade ajudaram o Tea­tro da Vertigem, em São Paulo, a delinear seu projeto artístico, efetivado com as montagens de o Paraíso Perdido (1992), ambientado na igre­ja de Santa lfigênia; O Livro de Jó (1995), que ocupou os três andares do hospital Umberto I, e Apocalipse 1, 11 (2000), sediado no presídio do Hipódromo. Antônio ARAÚJO distingue­-se como um encenador que busca no sagrado um apoio decisivo, levando seu elenco a contun­dentes confrontos para viver o hiper-realismo de cenas sempre rentes ao paroxismo. Em trilha as­semelhada, Ricardo KARMAN investe em novos espaços, como a exploração de um túnel escavado no coração do Parque Ibirapuera, para a monta­gem de Viagem ao Centro da Terra (1992), na qual a visão de seres mitológicos e heróis de diversas epopeias coagulavam a paisagem. Em 1996, cria A Grande Viagem de Merlim, levando o espepa­dor a percorrer um longo percurso dentro de'um ônibus multimídia que o despejava num aterro sanitário na periferia de São Paulo seguindo, na sequência, para as ruínas do Teatro Polytheama, em [undiaí, culminando a excursão à beira de um lago na Serra do Iapí. Nesse teatro de estações, não apenas a tradição medieval ressurge como experiência arcaica como, em igual medida, a parafernália eletroeletrônica se faz triunfante, numa justaposição de ingredientes que almeja arrebatar o espectador em todos seus sentidos.

Dois encenadores paranaenses despontaram nos últimos anos: Felipe HIRSH obteve consa­gração nacional com A Vida É Cheia de Som e Fú­ria (2000) e, especialmente, Os Solitários (2002), voltando-se para os fenômenos da memória e as interconexões psíquicas que ensejam a identida­de dos indivíduos. Fernando KINAS construiu um espetáculo radical em Carta aos Atores, tor­nando quase inexistente o intervalo entre vida real e representação (2002).

Perpétua, Opus Profundis e Desembestai! cons­tituem uma trilogia na qual Dionísio NETO ex­plorou, com desenvoltura, recursos da perfor­mance, do rock, da dança, da intertextualidade, da paródia e da citação, em 1996. Com a Cia. Cachorra criou, em 2000, novas realizações: Co­rações Partidos e Contemplação de Horizontes, O Dia Mais Feliz de sua Vida e A Milagrosa História da Imagem que Perdeu o seu Herói, exacerban­do procedimentos multimídia e fazendo desfilar personagens da cultura junkie das megalópoles. A marginalidade, a vida boêmia nos grandes cen­tros de diversões, a subcultura, os mitos da socie­dade de consumo estão presentes nos espetáculos de Mário BORTOLOTTO, ora como autor ora como encenador, cujas marcas distintivas estão no acabamento precário, nas montagens sujas e mal ajarnbradas, através de incompletudes que enfatizam a falta de artesanato como uma chan­cela da arte contemporânea.

Personagens periféricas assumem a cena nas obras de dramaturgos do final do século, revelan­do textos irados e comprometidos com um novo .enquadramento socioestético. São os jovens sem perspectivas de Budro (1994) e Atos e Omissões (1995), de Bosco BRASIL; os marginais de Um Céu de Estrelas, de Fernando BONASSI (1996); os estudantes criminosos de Vermuth (1998), os alternativos de A Boa (1999) e os militantes de MSTesão (2001), de Airnar LABAKI. A que se so­mam os aspirantes a atores de A Máquina (2000), de João FALCÃO, os degradados sociais de Ba­bilônia (2002), de Reinaldo MAlA, todos eles compondo facetas do Brasil desigual, dividido, construído sobre exclusões sociais. Evidenciam aspectos de amargura, sofrimento e abandono, a maré montante que coloca em cheque o sistema econômico globalizado. (EM)

(GUINSBURG, J., FARIA, João Roberto e LIMA, Mariângela Alves de (Coord.). Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Perspectiva: Edições SESC SP, 2009, p. 275 - 278) 


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um circo de lona nova


O grupo Dona Zefinha lança disco com trilha sonora do show "O Circo Sem Teto da Lona Furada dos Bufões"
O espetáculo, que acaba de ganhar registro em disco, foi sendo construído no decorrer dos anos: performance remete a histórias vividas pelo próprio grupo, criado no começo dos anos 2000
Ora teatro de rua, ora palhaços de circo, ora banda de música independente. Ou melhor, um misto de tudo isso. Em 20 anos de trabalho, os irmãos Ângelo Márcio, Orlângelo Leal e Paulo Orlando sedimentaram uma parceria artística multifacetada, onde as diferentes linguagens naturalmente se misturam. Reunidos no grupo Dona Zefinha - família artística que conta ainda com a esposa de Orlângelo, Joélia Braga e os amigos Wagner Ferreira e Vanildo Franco - eles lançam este ano em disco o registro de um de seus espetáculos mais marcantes: "O Circo Sem Teto da Lona Furada dos Bufões".

 O disco materializa o trabalho desenvolvido pelos irmãos desde o início de suas "traquinagens" artísticas, como palhaços-músicos, em sua cidade natal, Itapipoca. Criado e recriado ao longo das quase duas décadas (antes mesmo da formalização da banda), o espetáculo infantil resgata o humor e as brincadeiras tradicionais dos palhaços nordestinos, temperadas pelos ritmos de nosso cancioneiro nas misturas e experimentações do grupo. Músicas que, ao mesmo tempo, narram e sonorizam a história, cativando as crianças de hoje, apresentando um universo circense já em extinção, e mexendo com a imaginação e recordação dos pais.

O trabalho contou com direção musical de André Magalhães, arranjos de Gustavo Portela, que também faz participação como instrumentista. Além dele, a gravação tem presença das cantoras Aparecida Silvino e Cristina Francescutti, e a violoncelista Tamily Braga. Bem cuidado, além do refinamento sonoro, o disco traz um belo encarte, em formato retangular, com intervenções de Ângelo Márcio e  os dedos do fotógrafo Alex Hermes e do designer Ramon Cavalcante.

Músicas

O registro foi feito parte ao vivo, tomado em 2011 no Q.G. do grupo, a "Casa de Teatro Dona Zefinha", em Itapipoca. "Passamos (a banda Dona Zefinha) um mês sozinhos, concentrados no processo de refinamento, definição de arranjos. Também ficamos um tempo com Gustavo Portela. Foi um período de descoberta de que música ficava melhor com que instrumento", lembrou Orlângelo Leal sobre o processo de pré-produção. Para a gravação, conta, foram nove dias em total imersão, gravando, escutando e regravando, "sem saber se era tarde ou noite".

O resultado chega ao público em 12 faixas divertidas e bem exploradas musicalmente. Seja na instrumentação - com timbres de efeitos, programações, percussões diversas e arranjos para violino, trombone, trompete, tuba, banjo, guitarra - seja nas referências à música circense entremeada com xotes, valsas e baladas. As letras cantam causos como o do Sapo Cururu, a Baratatomica, Ravel o comilão e Maneco, mágico, palhaço, trapezista e equilibrista do Circo da Lona Furada. Tudo bem recheado de brincadeiras sonoras. Lançado há menos de um mês e prensado inicialmente em mil unidades, o disco, que, por enquanto, é vendido apenas em apresentações do grupo e contatos via internet, já está quase esgotado e uma segunda prensagem, de três mil unidades, está a caminho.

Transformações

As primeiras aparições de "Os Bufões", segundo Orlângelo, aconteceram ainda no início da década de 1990. À época, com palhaçadas temperadas por músicas de Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes. "A performance e a música sempre estiveram juntas. É uma marca da nossa história. E, neste começo, nós fomos muito influenciados pela geração que compôs música para criança nos anos 1980", recorda ele. De Itapipoca a Fortaleza, em 2001, os três irmãos criam a Dona Zefinha, sobressaindo-se mais o lado musical que o teatro e o humor. "Os Bufões", como era conhecido de início o espetáculo, seguiu embalado por músicas da infância dos três.

Em paralelo, surgiu o disco "Cantos e Causos" (2001), que reuniu as primeiras composições do grupo, e apresentações teatrais, como "O Casamento de Tabarim" (2003).

Peça constante, no entanto, no repertório do grupo, a partir de 2008, "Os Bufões" começam a ganhar músicas originais - aproveitando a maturidade para compor do grupo (que, antes, em 2007, já havia lançado o segundo disco, "Zefinha vai à Feira") e de olho em seu possível registro em disco, explica Orlângelo. É nessa época também que eles ganham "O Circo da Lona Furada", agregado ao nome.

"Nós somos três irmãos e, todo mundo hoje está com menino. Isso acabou dando um estímulo para que a gente gravasse o disco. O espetáculo, na época, já era tudo isso (que é hoje), só que sem músicas autorais. Então, a gente começou a escrever projeto para editais e eu comecei a me preocupar em compor para ele", explica.

Surgem também aí parceiros como o jornalista Flávio Paiva, que assina as faixas "Marimbondo Azul", com Orlângelo, e "Pinóquio e Emília", música que encerra o disco. Também entre os parceiros estão Gerson Moreno, João Edson e Júnior Santos, respectivamente assinando "A Folha" e "Sapo Cururu".

Com o registro em disco, a lona furada dos Bufões ganha novas cores. O espetáculo, que se confunde com a própria história e identidade artística da banda Dona Zefinha, agora foi o motivo de mais uma renovação.  Quem assiste ao show, percebe claramente uma banda musicalmente mais refinada, e como sempre, ainda criativa e divertida.

Disco
O Circo Sem Teto da Lona Furada dos Bufões

Dona Zefinha

Independente

2012, 12 faixas

R$ 10



FÁBIO MARQUES
REPÓRTER
Caderno 3 - Diário do Nordeste - 04.09.2012